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Inconveniência paga

Taxas de conveniência cobradas pelas grandes operadoras aumentam preço de ingressos sem garantir a comodidade do consumidor

Por Louise Peres
Atualizado em 5 dez 2016, 16h05 - Publicado em 30 ago 2011, 16h23

Pouco antes da meia-noite de hoje, mais uma vez a situação se repetiu: milhares de fãs de plantão diante de seus computadores, aguardando ansiosamente a abertura da venda online de ingressos para um grande show no Rio. Desta vez, o do ídolo teen Justin Bieber, no dia 5 de outubro, no Engenhão. Para evitar as filas quilométricas das bilheterias, optaram por comprar pela internet e assim garantir as disputadas entradas para o espetáculo, que custam de 230 (pista) a 490 reais (pista premium). Não sem pagar ? e caro ? por essa comodidade. Em compras pela internet ou call centers, a chamada taxa de conveniência é comumente acrescentada ao preço final do ingresso pelas empresas que operam o serviço de vendas. O acréscimo, atribuído ao ?alto custo de manutenção e desenvolvimento da infra-estrutura para venda simultânea de ingressos?, chega a corresponder a 20% do valor da entrada.

No caso do show de Justin Bieber, por exemplo, um espectador que optar pelo setor pista paga, além do ingresso (230 reais), uma taxa adicional de 46 reais pelo simples fato de tê-lo comprado online. Se a opção for o setor de pista premium, mais caro, o valor sobe para 98 reais. O que, de acordo com o Código de Defesa do Consumidor, é irregular, já que o serviço prestado é o mesmo, qualquer que seja o valor da entrada. ?A taxa de conveniência deve ser um mesmo valor fixo para todos. Ela se torna abusiva quando se baseia em um percentual sobre o preço ou a quantidade de ingressos?, explica Mariana Alves, advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.

O show do ídolo teen, infelizmente, não é um caso à parte. A prática se tornou comum desde que as vendas pela internet se tornaram um meio viável e, de fato, cômodo para o público que antes precisava se deslocar até um ponto de venda para adquirir um ingresso. A taxa, no entanto, tem afastado os consumidores da facilidade. Fã da banda Pearl Jam, que se apresenta na Praça da Apoteose no dia 6 de novembro, a jornalista Juliana Marques preferiu ir a um ponto de venda presencial para não ter que pagar os 50 reais de taxa de conveniência cobrados pela Time For Fun, empresa responsável pelo show. O ingresso, uma entrada inteira para o setor arquibancada, subiria de 250 para 300 reais. ?Deixei de comprar pela internet. É um saco ter que ir até os pontos de venda, mas é a única opção, porque que os ingressos ficam mais caros ainda com a taxa?, conta.

No entanto, a conveniência pela qual se paga nem sempre existe. Já nos primeiros minutos desta terça, o site da Livepass, empresa responsável pela comercialização da turnê de Justin Bieber no Brasil, apresentava lentidão. O sistema não é livre de falhas e, muitas vezes, a garantia de compra de um ingresso muito procurado se dá pela sorte. Fãs de artistas pop como The Black Eyed Peas, Beyoncé e Britney Spears, a arquiteta Fernanda Chagas e o biólogo Roberto Ferreira se organizam para estar a postos à frente do computador quando a venda de grandes shows está prestes a ser aberta. Nem sempre adianta. ?No show da Beyoncé (operado pela Livepass), quando todos começaram a comprar, o site ficou congestionado, e a conveniência pela qual a gente paga foi zero?, reclama Ferreira, que desembolsou 431 reais pelo show ? R$ 56,25 só de taxa. Em 2008, após inúmeras tentativas fracassadas de comprar pela internet ingressos para o show de Madonna no Maracanã, os amigos acamparam na porta da extinta Modern Sound, em Copacabana, um dos pontos de venda da turnê Stick & Sweet, gerenciada pela Time For Fun. A dupla se surpreendeu ao descobrir que, mesmo indo até lá, seriam obrigados a pagar a taxa. ?Dormimos na fila, mas pagaríamos taxa de conveniência. Que conveniência? De passar a noite na fila??, protesta Fernanda.

Os abusos praticados pelas grandes empresas transformam em contratempo o que deveria representar uma facilidade para o consumidor. ?Não me incomodo de pagar uma taxa de serviço de 3 reais por um ingresso de cinema porque compensa. Não enfrento fila, escolho meu horário, mas acho um valor justo?, afirma Juliana Marques. O produtor cultural Fabio de Souza, curador de shows do Solar de Botafogo, concorda que a taxa se justifica quando presta um serviço ao público. “Quando as pessoas querem assistir a um show em um teatro como o Solar, é arriscado comprar ingressos na hora porque o número de lugares é pequeno. Compensa ir ao site e comprar por lá pagando uma taxa de 5 reais, praticamente o que você gastaria de ônibus para ir até a bilheteria”, afirma.

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